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INFECÇÃO DO TRATO URINÁRIO
Dra Natália Andréia da Cruz
Equipe de Nefrologia Pediátrica do HEDV
A infecção do trato urinário é a patologia nefrológica mais comum na infância e caracteriza-se por
crescimento de microorganismos, principalmente bactérias em qualquer parte das vias urinárias.
Nas crianças com febre, sem causa aparente, a infecção urinária pede ser encontrada num percentual de 7 a
8%. Excetuando-se o período neonatal, a contaminação por via ascendente do aparelho urinário, por agentes
microbianos da flora intestinal, constitui o mecanismo patogenético mais freqüente de infecção urinária.
Nos primeiros 6 meses de vida, a ITU ocorre mais nos meninos devido ao maior número de malformações
congênitas do trato urinário. Depois do primeiro ano de vida, o predomínio da ITU ocorre nas meninas, com
incidência ao redor de 8%.
Tanto nos meninos como nas meninas, o agente mais comum é a Eschrichia coli, bactéria da flora intestinal,
responsável por 80% a 95% dos casos de Infecção Urinária. Outras bactérias como Proteus, Estafilococos e
Klbsiela também podem estar presentes e agentes como fungos e vírus, principalmente o Adenovírus não devem
ser esquecidos. Podemos classificar a infecção urinária em Cistite, quando acometemos a bexiga, trato
urinário baixo e geralmente não temos a presença de febre e alterações hematológicas e Pielonefrite,
quando o paciente apresenta sintomas sistêmicos, com febre e acometimento do parênquima renal.
Quanto menor a idade do paciente, mais difícil reconhecer os sintomas, pois estes são inespecíficos como
febre e dor abdominal, dificuldade para se alimentar, baixo ganho de peso. Uma maior pode apresentar dor
em baixo-ventre ou abdominal, polciúria (urinar a todo instante, com ou sem dor, em pequena quantidade, às
vezes só alguns pingos), dor nas costas, dificuldade em segurar a urina, molhando a roupa, e a urina pode
ter mal cheiro ou parecer turva.
Um dos obstáculos ao diagnóstico de ITU é o método de coleta de urina, pois muitas vezes o paciente não
tem controle esfinoteriano e precisamos lançar mão de métodos invasivos como a punção supra-pública ou a
sondagem uretra. A seleção de um método inadequado de coleta de urina pode conduzir ao falso-diagnóstico
de ITU e consequentemente a administração inadequada de antibióticos e exames de imagem dispensáveis.
O tratamento da ITU deve ser iniciado o mais precocemente possível e sempre após coleta de urina para
urocultura. O seu objetivo é controlar e aliviar sintomas, evitar o aparecimento de cicatrizes e erradicar
o agente do trato urinário. O tratamento é inicialmente instituído de forma empírica e logo que possível
ajustado de acordo com a cultura de urina. O antibiótico a escolher deverá ser aquele que atue sobre as
estirpes mais frequntemente infectantes do trato urinário e que com uma posologia cômoda e menos efeitos
colaterais assegure uma boa concentração na urina e no sangue, e não origine facilmente o aparecimento de
cepas bacterianas resistentes.
A indicação de internação deverá ser feita para aqueles pacientes que apresentarem comprometimento do
estado geral, principalmente os de faixa etária menor que dois anos. Além do tratamento por antibióticos,
a ingestão de líquidos deve ser abundante, e a avaliação do padrão de eliminações como evacuação de micção
deve ser feito visando a correção de eventuais distúrbios, que possam comprometer a evolução terapêutica.
O foco de atenção no cuidado da criança com ITU tem sido não somente relacionado ao diagnóstico e
tratamento precoces do episódio infeccioso, como também à minimização do dano renal crônico e suas
conseqüências clínicas. A escolha da abordagem da faixa etária de dois meses a dois anos de idade, como
sugerem a maior parte dos protocolos acadêmicos, tem como justificativa a freqüência de infecção urinária
nesta faixa etária, o desenvolvimento potencial de problemas clínicos a longo prazo neste pacientes, como
hipertensão arterial e déficit funcional renal, e a dificuldade diagnóstica apresentada, tanto do ponto de
vista de apresentação clínica como de obtenção de amostra urinária para diagnóstico. Após o tratamento do
quadro agudo de ITU, inicia-se a investigação por imagem e anamnese detalhada de malformações anatômicas
ou funcionais associadas. Recomenda-se o uso de quimioprofilaxia com sulfametoxazol-trimetoprim ou
nitrofurantoína ou cefalexina nos lactentes, após o tratamento da ITU para prevenção de nova infecção até
a conclusão da propedêutica.
Embora não haja consenso em relação à investigação mais apropriada para a criança com ITU, o objetivo do
diagnóstico por imagem é identificar precocemente os pacientes com risco de desenvolverem cicatriz renal,
especialmente neonatos e lactentes após a primeira ITU, com diagnóstico pré-natal de hidronefrose ou
irmãos de pacientes com RVU. O ultra-som renal (USR) e da bexiga é o primeiro exame a ser solicitado e
detecta anomalias estruturais. A cintilografia renal estática – Tc99 m DMSA deve ser realizada após os
quadros de pielonefrite, para avaliação de cicatrizes renais e para se nortear o seguimento clínico e o
restante da investigação por imagem. A uretrocistografia miccional deve ser indicada para aqueles casos
onde se suspeita de refluxo vesico ureteral ou disfunções da bexiga. Os demais exames de imagem deverão
ser indicados em casos especiais e não de rotina. A manutenção da profilaxia só esta indicada nos casos de
risco, onde as malformações urológicas estejam presentes ou naqueles casos de recidiva precoce da infecção
ou síndrome de eliminações. O seguimento deve focar na prevenção de novos episódios, portanto sugere-se a
coleta fequente de uroculturas de controle e mapeamento de complicações como perda da função renal e
hipertensão arterial.
Na presença de anomalias estruturais a criança deve ser encaminhada para o nefrologista/urologista
pediátrico. No nosso hospital contamos com um ambulatório específico para os pacientes com Infecção
Urinária, com atendimento Nefro-Urológico abordando todos estes aspectos discutidos neste texto.
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